segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Tempero da Vida.

Politiki Kouzina, esse é o nome original do filme em grego.
O filme passa ora em Athenas, ora passa em Istambul, cidade onde a personagem passa a infãncia. Politiki não é exatamente uma palavra, mas algo entre polícia e politica. Política porque as cozinhas e refeições giram em torno dos relacionamentos e polícia porque em um universo inserido dentro da cozinha, reuniões e relações, de repente uma família vê sua vida transformada ao ser deportada para a Grécia, deixando Istambul e a história de suas vidas pra trás através da polícia de imigração turca.
A história gira em torno de Fanis, que após ser deportado e proibido de voltar a Istambul, passa a vida esperando a visita do avô que nunca consegue ir à Grécia vê-lo.  E em contrapartida mesmo depois do fim da barreira politica, Fanis também não vai à Istambul e os dois sempre tão próximos e tão distantes (ainda que de avião a viagem dure cerca de uma hora e meia, quase como ir do Rio de Janeiro à Salvador) passam a vida em desencontros.
Os ensinamentos do avô são muito fortes na vida do protagonista. Interessante a cena em que o avô ensina astrônomia ao, então garoto Fanis, usando temperos diversos.  O sol é representado pela pimenta porque é quente e é de um sabor universal que combina com todo tipo de comida e outros temperos. E o sol alcança todos os planetas. A terra é representada pelo sal. Pela comparação do Sr. Vasillis, o avô, a terra é o planeta com vida, e os seres vivos assim se mantem por causa da comida e o sal melhora o sabor da comida. Quando adulto, Fanis é professor de astronomia em uma faculdade na Grécia. Sua vida correu sob influência do avô que dizia que a palavra astronomia estava dentro da palavra gastronomia. Fico imaginando o quanto incrível deve ser o céu e as estrelas vistos de Atenas e Istambul. Entre outros temperos e planetas, é uma comparação fora do comum, mais eu gosto de pensar em exemplos para tudo usando comida, cozinha, pessoas e situações referentes ao universo que vivo.
O título em inglês é Spice, com uma pimenta no lugar do "i". E como pode-se reparar no título em português, vida tem o mesmo "i" substituido por uma pimenta.
Proprietário de uma loja de temperos, o avô, era conhecido por ser uma pessoa diplomática de sabedoria admirável. E em um comércio popular onde frequentavam politicos e locais de todas as classes sociais, ele de forma sutil, aconselhava os clientes e serem mais suaves ou mais chocantes através do que faziam nas refeições. Fossem familiares ou politicas. Os temperos estavam por tras de uma das maiores guerras da história.
Dizia que, por vezes, era necessário usar temperos errados para provar pontos de vistas e opiniões diferentes. Que o cominho era um tempero forte que deixava as poessoas mais introspectivas e que a canela era um tempero mais suave e que fazia as pessoas olharem nos olhos umas das outras. E que apesar da canela ser usada principalmente em carnes que não eram frescas, na época poucas pessoas possuiam geladeira em casa, podia ser usada em carnes frescas também para direcionar a pespectiva da reunião. Na época as mulheres eram iniciadas na culinária a fim de se tornarem boas esposas. As que não cozinhavam bem não tinham muitos pretendentes. Que as pessoas gostam de histórias que não podem ver. E ninguém vê o sal, mas ele é a essência da comida. Que os molhos suavizam o sabor da comida e quando as pessoas não põe molho na comida, exageram no tom da conversa.
Dentre várias sacadas, algumas são inusitadas, como a história de uma prima que era excelente cozinheira aos  sete anos de idade e o padre sugeriu que ela estava possuída e na verdade era o demônio que cozinhava por não ser possível ela cozinhar tão bem aos sete anos. E por isso ela passaria a vida inteira em um manicômio. Outra boa é o protagonista ainda guri, com um peixe na mão, sendo benzido por padres que alegavam que Jesus não cozinhava e receavam que ele ficasse afeminado, mas ao se depararem com a mesa posta, esquecem o motivo do chamado. E quando o pai descobre que o filho estava cozinhando em um prostibulo.
O filme é uma grande reflexão de como passamos a vida e como tudo toma um rumo e se renova. É ilustrada com uma cena que aparecem idosos com caixas de doces embrulhadas para presente. Os dois primeiros sabores da vida: leite e açúcar.
Destaque para uma incrível mesa com quibes, pasta de grão de bico e berinjela, enroladinhos de parreira, faláfel... Naquelas louças que lembram a casa da vovó.
Eu recomendo.

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